domingo, 15 de setembro de 2013

NEM PATRÃO, NEM EMPREGADO: FRUTÍFERO


A necessidade de agir, produzir, criar é própria do ser humano; isso é uma de suas inerências. Evidente, há desvios: pessoas inativas, pelos mais diversos motivos, justificáveis ou não. A tendência para a produtividade foi posta no homem por Deus, conforme relata o livro do Gênesis. Deus é a origem da criação, do trabalho, da produtividade.

O homem não foi criado para a subserviência, para a escravidão ao seu próximo. Tal condição só o acometeu por causa do pecado. Na condição de pecador o ser humano desenvolveu a maldade e o sentimento de exploração do seu semelhante. Criou-se, aí, a noção de esclavagismo: o homem a explorar o próprio homem.

Por outro lado, submeter-se a outrem não é da natureza humana, motivo por que surgiram as insurreições e até as guerras. O homem não se desapega do sentimento de liberdade. Partindo desses pressupostos, o trabalho não é uma desgraça para ninguém; ao contrário, por ele é que se criam que se produzem as riquezas. Todo homem sadio, portanto, ama o trabalho, visto da perspectiva de produção do bem.

O sentimento de independência é um defeito: homens se interdependem. A sabedoria afasta essa noção de egotismo. O sistema político-econômico mundial é pecaminoso e gerador do egotismo. Daí que, nas economias surgiram conceitos de produtividade defeituosos em sua base. Um desses conceitos é o “trabalho por conta própria”. Que vem a ser isso?

Se entendermos que trabalho é a atividade por meio da qual o homem produz bens sociais, é inaceitável que alguém, “por conta própria”, se dê a essa produtividade. Ninguém vive, nem trabalha “por conta própria”. Essa noção advém do espírito de não-colaboração. Em geral, quem opta por esse tipo de atividade proclama: “não trabalho para ninguém!”. Ora, nem por ninguém, exceto por si mesmo. Não é aceitável a noção de trabalhar por conta própria, pelo que essa idéia revela de não-participação social.

Outra figura ancestral é a do “patrão”. Que é patrão? O dicionário apresenta um significado bem desagradável: “chefe ou proprietário ('conta própria') de estabelecimento industrial ou comercial, em relação aos que o servem”. (O grifo é meu). Na relação “patrão-os-que-o-servem” é clara a noção de mais-valia, colocando a produção de bens sociais numa situação de desigualdade. Ora, os que servem têm tanto valor social quanto aquele que “é servido”, se é que há um “servido”. Na realidade, um indivíduo dispõe de bens ou de condições que podem ser explorados (na melhor das acepções) por outros indivíduos, gerando crescimento e prosperidade de todos. Todos são iguais perante a produtividade.

A idéia de patrão e de empregado está perversamente ligada à idéia de exploração de um pelo outro. Daí, o desinteresse em ser “empregado” e a vontade insaciável de ser “patrão”, de trabalhar “por conta própria”.

Que é ser “empregado”? Ora só pode ser aquele que tem “emprego”, “ocupação”, “algo que fazer”. Assim, quem não é “desocupado” está “empregado”. Mas essa não é a noção agora corrente. O empregado é pobre, tem menos, é dependente; enfim, é um escravo. Não há conceito mais estúpido. Sem empregados não há riqueza, porque não há produção de bens. Se um capitalista investe dinheiro em seu projeto produtivo, os empregados são a força que dará vida ao projeto. Não há demérito em ser “empregado”, nem mérito em ser “patrão” Como entender, então, a passagem bíblica do apóstolo Paulo: “Vós servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo”. (Ef 6.5)?

Primeiro, é necessário contextualizar. A carta do apóstolo foi escrita para pessoas que viveram um tempo e numa região em que a sociedade tinha como normal a posse de escravos. Todavia, não se deve entender que Paulo aprovasse esse problema social, ou que ele pregasse a subserviência. Paulo ensina aos que viviam em tal situação a autovalorização. A instrução para obediência ao senhor (patrão), trazida para nossos dias, corresponde a que o “empregado” seja fiel ao contrato assumido, que tenha caráter em sua atividade (com temor e tremor), sem fingimento (na sinceridade do vosso coração). Fazendo assim, o “escravo” estava livre. Paradoxo? Não! Escravidão não é física, mas moral. Seja honesto, digno no exercício der seu trabalho e não haverá complexo, nem, necessariamente, a ansiedade por “trabalhar por conta”. “Servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como a homens, sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre”.

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