A necessidade de agir, produzir,
criar é própria do ser humano; isso é uma de suas inerências. Evidente, há
desvios: pessoas inativas, pelos mais diversos motivos, justificáveis ou não. A
tendência para a produtividade foi posta no homem por Deus, conforme relata o
livro do Gênesis. Deus é a origem da criação, do trabalho, da produtividade.
O homem não foi criado para a
subserviência, para a escravidão ao seu próximo. Tal condição só o acometeu por
causa do pecado. Na condição de pecador o ser humano desenvolveu a maldade e o
sentimento de exploração do seu semelhante. Criou-se, aí, a noção de esclavagismo:
o homem a explorar o próprio homem.
Por outro lado, submeter-se a
outrem não é da natureza humana, motivo por que surgiram as insurreições e até
as guerras. O homem não se desapega do sentimento de liberdade. Partindo desses
pressupostos, o trabalho não é uma desgraça para ninguém; ao contrário, por ele
é que se criam que se produzem as riquezas. Todo homem sadio, portanto, ama o
trabalho, visto da perspectiva de produção do bem.
O sentimento de independência é
um defeito: homens se interdependem. A sabedoria afasta essa noção de egotismo.
O sistema político-econômico mundial é pecaminoso e gerador do egotismo. Daí
que, nas economias surgiram conceitos de produtividade defeituosos em sua base.
Um desses conceitos é o “trabalho por conta própria”. Que vem a ser isso?
Se entendermos que trabalho é a
atividade por meio da qual o homem produz bens sociais, é inaceitável que
alguém, “por conta própria”, se dê a essa produtividade. Ninguém vive, nem
trabalha “por conta própria”. Essa noção advém do espírito de não-colaboração.
Em geral, quem opta por esse tipo de atividade proclama: “não trabalho para
ninguém!”. Ora, nem por ninguém, exceto por si mesmo. Não é aceitável a noção
de trabalhar por conta própria, pelo que essa idéia revela de não-participação
social.
Outra figura ancestral é a do “patrão”.
Que é patrão? O dicionário apresenta um significado bem desagradável: “chefe ou
proprietário ('conta própria') de estabelecimento industrial ou comercial, em relação aos que o servem”. (O grifo é
meu). Na relação “patrão-os-que-o-servem” é clara a noção de mais-valia,
colocando a produção de bens sociais numa situação de desigualdade. Ora, os que
servem têm tanto valor social quanto aquele que “é servido”, se é que há um “servido”.
Na realidade, um indivíduo dispõe de bens ou de condições que podem ser
explorados (na melhor das acepções) por outros indivíduos, gerando crescimento
e prosperidade de todos. Todos são iguais perante a produtividade.
A idéia de patrão e de empregado
está perversamente ligada à idéia de exploração de um pelo outro. Daí, o
desinteresse em ser “empregado” e a vontade insaciável de ser “patrão”, de
trabalhar “por conta própria”.
Que é ser “empregado”? Ora só
pode ser aquele que tem “emprego”, “ocupação”, “algo que fazer”. Assim, quem
não é “desocupado” está “empregado”. Mas essa não é a noção agora corrente. O
empregado é pobre, tem menos, é dependente; enfim, é um escravo. Não há
conceito mais estúpido. Sem empregados não há riqueza, porque não há produção
de bens. Se um capitalista investe dinheiro em seu projeto produtivo, os
empregados são a força que dará vida ao projeto. Não há demérito em ser “empregado”,
nem mérito em ser “patrão” Como entender, então, a passagem bíblica do apóstolo
Paulo: “Vós servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne, com temor e tremor,
na sinceridade do vosso coração, como a Cristo”. (Ef 6.5)?
Primeiro, é necessário
contextualizar. A carta do apóstolo foi escrita para pessoas que viveram um
tempo e numa região em que a sociedade tinha como normal a posse de escravos.
Todavia, não se deve entender que Paulo aprovasse esse problema social, ou que
ele pregasse a subserviência. Paulo ensina aos que viviam em tal situação a
autovalorização. A instrução para obediência ao senhor (patrão), trazida para
nossos dias, corresponde a que o “empregado” seja fiel ao contrato assumido,
que tenha caráter em sua atividade (com temor e tremor), sem fingimento (na
sinceridade do vosso coração). Fazendo assim, o “escravo” estava livre.
Paradoxo? Não! Escravidão não é física, mas moral. Seja honesto, digno no
exercício der seu trabalho e não haverá complexo, nem, necessariamente, a
ansiedade por “trabalhar por conta”. “Servindo de boa vontade como ao Senhor, e
não como a homens, sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer,
seja servo, seja livre”.
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